sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O Dono Deles Todos

Por Arnaldo Matos
 
Publicado em 21.08.2015 
A pouco e pouco, vai-se descobrindo toda a verdade do caso: o dono disto tudo é afinal e também o dono deles todos.
Reportamo-nos, como a leitora e o leitor decerto já adivinharam, a Ricardo Espírito Santo Silva Salgado, quadrilheiro-mor da quadrilha de gatunos da família Espírito Santo, dona de um império económico e financeiro que, no seu auge, chegou a explorar cerca de trinta mil trabalhadores em Portugal e no mundo, e cujo volume de negócios alcançou, nos seus melhores tempos, perto de 15% do produto interno bruto português.
Nos meios mafiosos do capitalismo, o sujeito era conhecido como o dono disto tudo, o Senhor DDT…
Em Agosto do ano passado, o império da divina família Espírito Santo, na sua louca e gananciosa corrida pela acumulação capitalista, conheceu o chamado estouro da boiada e desintegrou-se numa falência universal do Banco e de todo o Grupo Espírito Santo.
A quadrilha e o quadrilheiro-mor, ocultando com a devida antecedência dinheiro e riqueza nas offshores do mundo, continuam podres de ricos, enquanto que a maior parte dos trabalhadores do Banco e do Grupo perderam os empregos, e os pequenos accionistas e pequenos depositantes das empresas e do banco da divina família ficaram reduzidos à miséria.
Salgado e a quadrilha Espírito Santo, que continuam mais ricos do que nunca, aguardam o momento em que poderão vir a ser de novo os donos disto tudo.
Só que Salgado e a respectiva quadrilha de gatunos nunca poderiam ter chegado a ser os donos disto tudo, se o Senhor DDT não tivesse ao seu serviço um batalhão de políticos corruptos e não fosse também o dono deles todos.
Sabe-se que a Ricardo Salgado, por especial obséquio do agente do ministério público e do juíz de instrução encarregados dos diversos processos criminais em que já está constituído arguido, foi aplicada a benevolente medida coactiva de obrigação de permanência na habitação, medida que tem estado a gozar no seu palacete de Cascais.
Acontece que o Dr. Mário Soares, fundador do Partido Socialista e candidato a pai da pátria portuguesa democrática, foi, no passado dia 6 de Agosto, visitar o senhor DDT no seu cárcere dourado do n.º 141 da Rua da Pedra da Nau.
Soares sentiu que devia uma explicação ao país atónito com tão insólita visita, e não encontrou nada de melhor do que a invocação da palavra amizade: Soares é amigo de Salgado…
Soares também alegou ser amigo de Sócrates; veremos agora quantas vezes irá visitar Sócrates e quantas vezes irá visitar Salgado, para se poder exprimir a equação das amizades que Soares dedica a um e a outro.
O problema para Soares é que há centenas de milhares de emigrantes, pequenos accionistas e pequenos depositantes portugueses que ficaram na miséria mais extrema por terem sido roubados pela quadrilha de gatunos dirigida pelo seu amigo Ricardo Espírito Santo Silva Salgado.
Soares é amigo de um gatuno, mas aqui não pode fazer ponto final parágrafo. Soares tem de explicar ao país e ao povo português qual é a origem dessa amizade e qual a força desse sentimento pessoal que o leva a visitar o dono disto tudo, quando centenas de milhares de portugueses pobres e remediados choram o roubo das suas economias de uma vida, levado a cabo pelo seu amigo.
Nessa explicação, que o povo espera e exige, Soares não se irá com certeza esquecer de referir quanto é que, em dinheiro e em toda a sua vida política, recebeu do chefe e da divina família Espírito Santo. Quanto é que dele recebeu – ou não recebeu? – para sustentar as campanhas eleitorais do seu partido e das suas candidaturas à presidência da república.
É a isto que Soares chama amizade?
Decerto Soares não foi nem será o único beneficiário da generosidade do capitalista que visitou agora em Cascais. Avance Cavaco, e diga-nos lá se recebeu ou não dinheiro para as suas campanhas, esportulado pelo senhor DDT! E venha Jorge Sampaio, e confesse-se sobre a mesma matéria! E dêem um passo em frente todos os chefes dos partidos do arco da governação e expliquem-nos lá, preto no branco, se e quanto receberam, para financiamento das suas actividades políticas, do ladrão protegido no seu Paço de Cascais!
Queremos todos saber, com meridiana clareza, se o Senhor DDT é ou não o dono desses políticos todos.
Coisa que é tanto mais urgente quanto é certo que, ainda anteontem, se propôs a Belém uma candidata que vem das fileiras do Grupo Espírito Santo, onde prestou serviço de consultadoria na empresa Luz Saúde, proprietária do Hospital da Luz e concessionária do Hospital Carolina Beatriz Ângelo e dona dos terrenos do quartel de onde vai ser em breve expulso, depois de negociata já concluída com António Costa enquanto presidente da Câmara de Lisboa, o Regimento de Sapadores Bombeiros.
Seria bom que Maria de Belém Roseira explicasse rapidamente ao país quais são as suas relações com o bandido protegido no n.º 141 da Rua da Pedra da Nau, em Cascais.
É só para se saber se Ricardo Salgado continua ou não a ser o dono disto tudo e deles todos, e dono dela também…
  

CARTA ABERTA À JUVENTUDE


http://lutapopularonline.org/index.php/partido/1712-carta-a-juventude-1?showall=&limitstart=Acabo de te abandonar sem que te perca o rasto.
Os 31 anos que levo desta vida não me deixam ser tua. Os intervalos da estatística separam-nos os corpos mas nada podem fazer quanto à sede da vida que nos terá por companheiras.
A verdade é que não se pode ser adulto de facto sem poder antecipar os dias e não há coisa que mais os obscureça e me faça sentir imberbe que a cortina que pousou sobre eles.
Eu nem tinha grandes planos. Gostaria de ter uma casa; um trabalho que desse dinheiro para livros, cinema e música; cozinhar pitéus para amigos e brindar-lhes a companhia; poupar para velha; viajar de quando em vez; uns sapatos confortáveis para passear.
Na saúde penso pouco porque a vou tendo e à educação tive o direito público antes que Bolonha tivesse atacado.
Até há pouco, nem pensava constituir família que é preciso cuidar dela uma vida toda, sabe-se lá como, e eu tenho tanto para fazer. Cresci a sobrevalorizar a profissão com sucesso.
Porém, tenho-te visto nascer, Juventude, sobrevivente da ruína social, fruto dos amigos atirados ao amor entre si, e, porque nasces no mesmo dia que o Futuro de Liberdade, não há outra criatura em que deposite mais esperança e que me traga mais frustrações.
O Futuro tem sido todos os dias.
Em 1983, nasci durante a segunda intervenção do FMI em Portugal. Tinham passado apenas seis anos da primeira e do pedido de adesão à CEE, três magros anos volvidos sobre a Revolução dos Cravos. Em 1985, Mário Soares assinou o tratado de adesão ao que agora conhecemos como União Europeia. Isto significa que este país, e eu, conhecemos bem as amarras recentes ao desenvolvimento económico e que nunca se instalou a mudança que Abril prometia, apesar das melhorias estatísticas relevantes no que se reporta ao serviço público. Haverá força nos mais fracos?
Os meus pais de tudo fizeram para me criar e permitir a licenciatura que julgavam ser sinónimo de emprego qualificado e estável. Não sei se já trabalhas, Juventude, todavia é o que a sociedade de ti espera se queres pertencer-lhe. Cuida do teu Futuro hoje.
A estabilidade económica é tão importante como um degrau que permite o próximo passo. Até a União Europeia tem gritado por ela. Enquanto os meus pais a desejavam porque nela viam a possibilidade de emancipação - pela minha liberdade e pela deles face a constrangimentos materiais, a U.E. aclama a estabilidade de refém mantendo a trela curta aos povos guiados por números incompreensíveis.
A estabilidade para a emancipação vem do trabalho que se faz em conjunto.
Há um título de romance austríaco do século XIX que ficou famoso pelo uso nazi. Nesse livro, um homem de jogo descobre a virtude pelo trabalho. O senso comum sabe que “o trabalho liberta” das condições materiais e talvez, por esta razão, se torne tão insidiosa a frase de acolhimento em campos de concentração onde judeus morriam, mais que ao trabalho, à insuficiência de condições e objectivos humanistas para o desempenhar. As condições de trabalho andam escassas para quem quer ser feliz.
Hoje não há letras de boas-vindas mas um eco fascista sobrevoa-nos escurecendo o céu da Europa.
Hoje são os impostos sobre o trabalho, e a desvalorização dele, que hão-de libertar-nos de uma dívida que não criamos nos campos de acumulação do Euro.
Hoje é o desemprego que nos impede de nos libertarmos da dívida, mesmo contestando a injustiça da cobrança de uma dívida feita por capitalistas e não por proletários.
Hoje, se não puderes pagar a formação, porque faltam trabalho e dinheiro, há um banco que te empresta para que depois, em juros e obrigações, vás trabalhar em qualquer coisa para pagar o teu direito à Educação e sais da escola já endividado.
Hoje o momento alto da tua educação e companheirismo é prostrares-te de quatro, sem nome, e aprender a subserviência e a hierarquia do uniforme.
Hoje, Juventude, é o estágio não-remunerado a tua ambição no fim do curto curso que mal te prepara para que depois compres os mestrados e os doutoramentos para trabalhar, quando deverias estar a estudar para aprender a pensar duas vezes.
Hoje resignas-te a trabalhar de graça para os outros. Estás para o teu patrão como o burro para a cenoura e reverencias quem te monta.
Hoje aceitas que ninguém te dê valor e que o compromisso contigo seja precário, porque o capitalismo destruiu postos de trabalho para impor salários baixos e qualquer coisa que agarres é melhor que afogar-te na mágoa de ser inútil para consumir.
Hoje o respeito pela tua dignidade chamam-lhe empreendedorismo, sem que nunca te expliquem de onde vem o dinheiro e a competência para investir e que, o mais certo, é arrastares a tua família ou as poupanças para o crédito que contraíste aos mesmos banqueiros que liquidaram o emprego que irias ter.
Hoje vives com os teus pais ou voltas para casa com idade para ser mãe.
Hoje tens por certo que a vida possível é a de um refugiado sem guerra à vista e que, contudo, te faz vítima expatriada. Até te parece bem emigrar já que és tão nova e a experiência é boa. Talvez tenhas ido para a Alemanha aproveitar a caridade de ganhar quatro vezes menos que um alemão.
Hoje esqueces que a U.E. tem origem no comércio do carvão e do aço e sentes-te abençoada por não seres obrigada a mostrar o passaporte na fronteira, embrulhada na ideia revolucionária de que os Estados são irmãos e vivem em paz.
Hoje és a tampa de saneamento no meio da calçada onde políticos e outros corruptos passeiam os cães de fila que guardam os teus pais e juízes.
Hoje, Juventude, crês que a democracia é um engodo, que não te representa e fito-te as costas voltadas à pátria que te pariu. Julgas que participar é indiferente e que Eles são todos iguais.
Hoje absténs-te como humanidade livre ainda que te cerque o azul estrelado.
Hoje parece-te que viverás sempre e os velhos cansados são chatos e não te compreendem. Para o diabo com a saúde, para o inferno com as reformas! Que tudo seja privado e, com o emprego que para aí se gera, reza para conseguir pagar a quimioterapia por mais um dia e ter pão quando te faltarem os dentes.
Hoje encolhes os ombros à privatização de tudo, desde a água para beber à electricidade que carrega o teu telefone esperto e o que era direito passa a dever de pagar. Reclamas que o Estado tudo gere mal preferindo culpar a soberania pelos negócios mal-parados de meia-dúzia de maus gestores que entram pelas portas de fundo dos conselhos de ministros antes do anúncio de medidas de austeridade.
Hoje, nem movimentar-te poderás porque os transportes são para render em SWAP’s e as pernas são de graça para quem as tem ou não vive longe do que precisa.
Hoje, o melhor que consegues é low cost ou marca branca e sentes-te rico com a política do desperdício e desprezo.
Hoje tens o olhar envenenado dos que perdem e querem que o resto se perca como eles.
Hoje talvez percebas que os teus pais confiaram demais no “Depois do Adeus”, não foram a Grândola porque esteve sempre ali perto e foi ao lado que lhe passaram.
Estes 40 anos, Juventude, deram-te a liberdade de caixote de areia, a democracia de hora marcada e a propriedade a crédito. Afeiçoaste-te à culpa que os teus pais te ensinaram por terem adormecido a más horas em cima dos carris da alta velocidade especulativa.
Hoje, a cor da Revolução está comida pelo sol das alvoradas de leste mas lembra-te que aqui o sol se põe no Atlântico de onde nem o peixe é teu.
Por isso, hoje, vira as costas à União Europeia que a Europa continua cá amanhã.
Hoje pensa no amanhã em que a tua casa será para ti e menos para o aluguer aos turistas que aumenta a renda que deverias conseguir pagar sozinha. Quiçá possas pôr os teus filhos, se os puderes ter portugueses, a dormir na vertical alinhados com o poder.
A Juventude que conheci sonhava com a mudança que supunha trazer, ainda que imperfeita e devagar, a igualdade de circunstância social. Desconheço revolução que tenha avançado sem essa tua força, Juventude.
Amanhã poderias ter tudo o que tens hoje e melhor. Não percebo porque recuas, porque baixas os braços e partes antes que o tempo acabe. Ao menos não te faças provinciana nas capitais do mundo e usa o voto que chega aqui.
A idade tira-me o sono, nunca o sonho. Quero paz, pão, habitação, saúde, educação e tudo o mais que precisemos juntos para sermos livres. Um projecto de emancipação individual apoiado no conjunto, a ressoar movimentos populares que cismam crescer noutras nações contra o capitalismo, como o que pratica a U.E., que vai amordaçando os ventos contrários à sua palavra.
Dou-me por Virgínia Valente, sou activista política independente, sem horários nem honorários.
Luto por medidas de alteridade contra a austeridade que nada cria. Quero manter e ampliar as conquistas de Estado que fizeram de mim pessoa sem ter quase nada com que pagá-las, nem que para isso tenha de rejeitar a União Europeia. Não admito a ideia de pobreza na era das máquinas nem tolero a espoliação dos recursos naturais do meu país.
Tentaram apagar as classes e continuo proletariado. Tentaram apagar o género e continuo mulher. Tentaram dilatar a juventude porém o tempo é padrasto e tornei-me adulta.
As classes, o género e juventude extinguir-se-ão muito depois de mim.
Preciso de um partido para participar na democracia, um que defenda abertamente a liberdade, a participação popular e a independência nacional como degraus necessários à construção de uma nação global.
Hoje, ao deixar a minha juventude de cartão de cidadão, apelo pelo apoio ao Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses. O voto no PCTP-MRPP é um voto por ti, de um partido que não conhece os vícios do poder a não ser de os reconhecer de fora. É também um voto contra os governos de maioria. Venham eles a ser de que partido forem, uma maioria parlamentar é a porta de entrada das medidas que dificultarão ainda mais as condições da tua vida, Juventude.
Devolve-te o futuro hoje. Ainda não estás velha para isso.


Virgínia Valente
Mandatária Nacional do PCTP/MRPP para a Juventude